sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Uma questão de dimensões...

Poucas pessoas conhecem a verdadeira dimensão do universo. Um pequeno aspecto dessa dimensão pode ser visto aqui.Este filme ilustra apenas a diminuta dimensão da Terra, quando comparada com outros corpos celestes.Outro aspecto é o número bruto de estrelas que existem só na nossa galáxia: o equivalente aproximadamente ao número de segundos que há em... três mil anos. Só na nossa galáxia.Mas há cerca de cem biliões de galáxias.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

O "Carsoscópio"


O último Centro Ciência Viva situa-se na nascente subterrânea do rio Alviela em Alcanena, no Maciço Calcário Estremenho (na A1 sair em Torres Novas). Intitula-se Carsoscópio, o que significa o observatório do carso (carso é a adaptação para português da palavra karst, o nome da esburacada região eslovena que serve para designar todo o modelado calcário). O edifício moderno e acolhedor, que se ergue logo acima da praia fluvial, reúne três secções: o Geódromo, um filme de realidade virtual (em cima excerto do You Tube) sobre o maciço calcário e as suas nascentes, com tecnologia de cadeiras móveis como há nalguns parques de diversões, o Climatódromo, um filme a três dimensões para ver com óculos especiais sobre o clima da região, em particular as precipitações que estão na origem da grande nascente (à saída está um módulo interactivo exemplifica o ciclo da água), e um Quiroptário, uma galeria sobre morcegos com interessantes módulos, nomeadamente um capacete para ecolocalização que permite ao visitante imitar um morcego. Apesar de toda a tecnologia visual, o Quiroptário pareceu-me a parte mais interessante. A informação sobre os quirópteros era correcta e adequada à idade dos jovens, que são os principais destinatários, e as monitoras eram bastante simpáticas.
O visitante não deve esquecer-se de dar uma volta por fora do Carsoscópio para ver o canhão ("canyon") escavado pela fúria das águas. Há excursões guiadas a esse belo recanto do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeeiros, assim como a outros. E também, já que se encontra nessa zona, o visitante pode visitar grutas turísticas como as de Mira de Aire, com curso de água subterrâneo (apesar de haver comunicação de água, não se conhece uma comunicação penetrável pelo homem até à Nascente, ou Olhos de Água, do Alviela) ou, menos turísticas, como o Algar do Peno. A região faz as delícias dos espeleólogos e dos admiradores deles!
O Geódromo dá uma ideia da exploração subaquática da nascente, uma exploração que não está acabada. No ano passado uma expedição da Sociedade Portuguesa de Espeleologia, com um mergulhador polaco, permitiu atingir um recorde de profundidade de 130 metros abaixo da superfície, sem se atingir o fundo da cavidade (ver em baixo mapa da cavidade). Este tipo de exploração é extremamente perigoso, tendo custado a vida, embora noutros locais, a alguns exploradores mais afoitos. Vale a pena lembrar que uma nascente semelhante, mas ainda maior, é a Fonte de Vaucluse, no Sul de França, onde o lendário Jacques Yves Cousteau mergulhou até -46 metros, o temerário espeleonauta alemão Jochen Hasenmayer desceu até -205 m e um engenho telecomandado atingiu o fundo do sifão a -305 m. E talvez não seja do conhecimento geral que o recorde do mundo de mergulho subaquático em grutas pertence a um português, o extraordinário Nuno Gomes, um engenheiro emigrante na África do Sul, que estabeleceu o recorde do mundo de -283 m na gruta de Bushmansgat na África do Sul, Em mergulho em águas livres, no Mar Vermelho, o português já atingiu outro fabuloso recorde: -318 m. Eu julgo que Nuno Gomes ainda não mergulhou na nascente do Alviela. Talvez quando o fizer, consiga ir abaixo dos actuais 130 m de profundidade...

in http://blogs.publico.pt/dererumnatura/

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

O ocaso de um Génio


Dia 2 de Fevereiro morreu um gigante do século XX, Joshua Lederberg, o «pai» da genética microbiana, homenageado com o Nobel quando tinha apenas 33 anos pela sua descoberta de que as bactérias também têm «sexo» - embora sem indícios de que se divirtam no processo, apesar do afinco com que se dedicam à reprodução.Joshua Lederberg partilhou o Nobel de Medicina em 1958 com George Wells Beadle e Edward Lawrie Tatum «pelo trabalho respeitante a recombinação genética e genética bacteriana». Ao anunciar o prémio, o Instituto Karolinska referiu que Lederberg descobrira que «diferentes tipos de bactérias poderiam ser cruzados para produzir descendentes contendo uma nova combinação de factores genéticos». O processo, análogo ao sexo, fora designado por Lederberg «recombinação» no artigo «Gene recombination in E. coli», publicado na edição de 19 de Outubro de 1946 da Nature .Lederberg, que organizou o Departmento de Genética Médica na Stanford University Medical School (1957), de que foi Chairman entre 1957 e1958, foi director do Kennedy Laboratories for Molecular Medicine (1962) e presidente da Rockefeller University (1978-1990), foi o pioneiro da microbiologia e imunologia modernas que lançou as fundações da engenharia genética e da abordagem genética da medicina. A actividade de Lederberg não se restringiu à biologia e introduziu a ciência da computação e a inteligência artificial nos laboratórios de biologia.Em 2003, Lederberg, um grande comunicador de ciência que mantinha uma coluna que distribuía por jornais de referência, intitulada «Ciência e Homem» e que sobre o impacto das descobertas científicas na sociedade, escreveu um artigo em exclusivo para o Expresso, reproduzido nesta página.Filho de um rabi ortodoxo que reagiu «muito fortemente» à vocação religiosa do pai interessando-se desde muito cedo por assuntos cientícos e seculares, Lederberg foi um firme advogado da ciência e da comunicação de ciência. Como afirmou, manteve ao longo da vida «um interesse inamovível em ciência, a forma pela qual o homem pode conseguir perceber a sua origem e propósito».Para Lederberg, muito crítico do sistema de financiamento de ciência actual que privilegia projectos com aplicações rápidas e não a chamada investigação fundamental, o divórcio entre ciência e sociedade a que assistimos é um efeito colateral do que chamou «Instrumentalismo, ou a ciência dirigida a necessidades específicas» que «parece ser cada vez mais o critério para o investimento em ciência» e sobre o qual «Tenho sérias reservas em o aceitar como a única base moral para uma carreira em ciência».Para fortalecer a cultura de ciência, Lederberg propôs quatro reformas, dirigidas ao sistema norte-americano mas que me parecem universais. As reformas pretendem obstar à deriva do verdadeiro espírito científico, que o seu mentor «Francis Ryan compreendia bem: a melhor forma de alcançar progresso científico é resistir à tentação de o controlar. Como escreveu Emerson numa meditação sobre a imprevisibilidade do génio, 'The mind goes antagonizing on'; os movimentos mais produtivos da mente são aqueles livres de expectativas prematuras sobre as recompensas que darão».Continuando com as palavras de Ralph Waldo Emerson, «Há sempre o pôr do sol e há sempre génios»: na semana passada atingiu o ocaso a vida de um génio mas a luz da sua mente brilhante nunca se apagará nas nossas.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

O amaranto, uma planta considerada sagrada pelos antigos maias, astecas e incas, foi um dos vegetais mais importantes da América pré-colombiana. O consumo da planta cujo nome significava «alegria» foi proibido durante o domínio espanhol por estar associado a práticas religiosas «pagãs».A planta era conhecida pelos gregos que a designavam «amarantus», que significa «nunca murcha», e na Índia o reconhecimento das suas virtudes é evidenciado pelo seu nome em sânscrito: «amarnath» ou «rei da imortalidade».
A realeza sueca recompensava os seus súbditos que se destacavam em exibições de força oferecendo-lhes coroas feitas desta planta.
Os gregos, por sua vez, usavam a oliveira para as coroas de glória, nomeadamente, nos primórdios dos Jogos Olímpicos, os atletas vencedores eram homenageados com coroas de oliveira, tradição suplantada pelo louro com o domínio romano mas retomada nos jogos de 2004 na Grécia.Na cultura mediterrânica, a oliveira, símbolo da paz, era considerada uma fonte de força e de saúde. Esta associação do amaranto e da oliveira a coroas de glória para feitos atléticos é curiosa uma vez que ambas as plantas se encontram entre as principais fontes vegetais de um anti-oxidante de efeitos reconhecidos, o esqualeno, um isopreno como as vitaminas E e A, compostos cuja estrutura foi descrita por Paul Karrer, laureado com o Nobel da Química em 1937.Outra semelhança entre estas plantas é o facto de uma dieta rica em ambas (ou seus derivados) contribuir para a redução dos níveis plasmáticos de colesterol, embora no caso do amaranto sejam necessários mais estudos para confirmar os resultados preliminares e elucidar o mecanismo da sua acção.
Os efeitos benéficos do azeite na saúde humana são desde há muito reconhecidos, nomeadamente está bem assente que a sua inclusão na dieta apresenta, entre outros benefícios, uma considerável redução do risco de cancro de mama. Theresa J. Smith e Harold L. Newmark, sugeriram que o efeito protector se deve à elevada quantidade de esqualeno contido no azeite (especialmente no extra virgem). De facto, existem numerosos estudos sobre o efeito do esqualeno, em aplicação tópica ou em administração sistémica, sobre vários tipos de cancro, da pele, do intestino e do pulmão, induzidos quimicamente em ratinhos. Os resultados obtidos sugerem que o esqualeno possui efeitos anti-carcinogénicos notórios e alargados.Mas as fontes vegetais deste triterpeno só começaram recentemente a ser consideradas uma vez que, como o nome indica, o esqualeno foi identificado pela primeira vez no óleo de fígado de peixes da família Squalidae, ou seja, óleo de fígado de tubarão, uma das fontes mais ricas de esqualeno.Usado em larga escala como suplemento alimentar desde a antiguidade, nomeadamente na China - Lee Ji Chin, que compilou a «enciclopédia» chinesa dos produtos medicinais, a Honzokomoku, identifica o óleo de fígado de tubarão como uma importante fonte de saúde e longevidade - e no Japão - o «samedawa» ou «cura tudo» era um extracto do fígado dos tubarões bebido pelos pescadores de Soruga Bay - e em anos mais recentes na indústria cosmética, o interesse económico do óleo de fígado de tubarão e a pesca intensiva associada colocaram algumas espécies na lista das espécies ameaçadas de extinção da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais, a lista vermelha da IUCN.
O esqualeno é um precursor da biossintese de esteróides que está presente naturalmente no corpo humano, estando concentrado na pele onde fornece protecção contra germes e contra os danos oxidativos causados por radicais livres. O esqualeno apresenta assim propriedades que o tornaram muito importante em cosmética (e medicina), já que para além da acção anti-oxidativa actua a nível celular melhorando a oxigenação e regeneração dos tecidos e é absorvido rápida e profundamente. Nos últimos anos, devido a preocupações ecológicas, muitas empresas de cosméticos deixaram de utilizar o óleo de fígado de tubarão nas suas formulações, substituindo-o por análogos vegetais, nomeadamente por óleos vegetais ricos em esqualeno.A Oceana, uma organização de defesa dos oceanos, anunciou que a Unilever se junta este ano a outras empresas e irá substituir o óleo de fígado de tubarão, que utilizava em produtos como o Dove ou o Pond's, por esqualeno de origem vegetal. Esperemos que este bom exemplo seja seguido pelos fabricantes de suplementos alimentares naturais e que o tubarão deixe de ser pescado exclusivamente devido aos seus bons fígados.E esperemos que cada vez mais pessoas se apercebam que o prefixo bio no nome de um composto químico não lhe altera as propriedades (embora lhe possa alterar as virtudes ecológicas): o esqualeno, como outra molécula qualquer, apresenta exactamente os mesmos efeitos quer seja obtido por síntese, da azeitona, do amaranto ou do fígado de espécies ameaçadas de extinção!

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

400 anos de Vieira

Comemoram-se hoje os 400 anos do nascimento do Padre António Vieira, um dos maiores escritores de língua portuguesa. Para assinalar o dia fica um bocadinho do "Sermão de Santo António aos peixes" (1654):"Vede um homem desses que andam perseguidos de pleitos ou acusados de crimes, e olhai quantos os estão comendo. Come-o o meirinho, come-o o carcereiro, come-o o escrivão, come-o o solicitador, come-o o advogado, come-o o inquiridor, come-o a testemunha, come-o o julgador, e ainda não está sentenciado e já está comido. São piores os homens que os corvos. O triste que foi à forca não o comem os corvos senão depois de executado e morto; e o que anda em juízo, ainda não está executado nem sentenciado, e já está comido".Logo à noite, pelas 21h15m, vai ouvir-se o "Sermão de Quarta Feira de Cinzas" (1670) na Capela da Universidade de Coimbra, juntamente com um concerto no velho órgão barroco. A organização é do Centro de Estudos Clássicos da Universidade e do Centro Interuniversitário de Estudos Camonianos, sediado na Biblioteca Geral da Universidade.