quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

O "Carsoscópio"


O último Centro Ciência Viva situa-se na nascente subterrânea do rio Alviela em Alcanena, no Maciço Calcário Estremenho (na A1 sair em Torres Novas). Intitula-se Carsoscópio, o que significa o observatório do carso (carso é a adaptação para português da palavra karst, o nome da esburacada região eslovena que serve para designar todo o modelado calcário). O edifício moderno e acolhedor, que se ergue logo acima da praia fluvial, reúne três secções: o Geódromo, um filme de realidade virtual (em cima excerto do You Tube) sobre o maciço calcário e as suas nascentes, com tecnologia de cadeiras móveis como há nalguns parques de diversões, o Climatódromo, um filme a três dimensões para ver com óculos especiais sobre o clima da região, em particular as precipitações que estão na origem da grande nascente (à saída está um módulo interactivo exemplifica o ciclo da água), e um Quiroptário, uma galeria sobre morcegos com interessantes módulos, nomeadamente um capacete para ecolocalização que permite ao visitante imitar um morcego. Apesar de toda a tecnologia visual, o Quiroptário pareceu-me a parte mais interessante. A informação sobre os quirópteros era correcta e adequada à idade dos jovens, que são os principais destinatários, e as monitoras eram bastante simpáticas.
O visitante não deve esquecer-se de dar uma volta por fora do Carsoscópio para ver o canhão ("canyon") escavado pela fúria das águas. Há excursões guiadas a esse belo recanto do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeeiros, assim como a outros. E também, já que se encontra nessa zona, o visitante pode visitar grutas turísticas como as de Mira de Aire, com curso de água subterrâneo (apesar de haver comunicação de água, não se conhece uma comunicação penetrável pelo homem até à Nascente, ou Olhos de Água, do Alviela) ou, menos turísticas, como o Algar do Peno. A região faz as delícias dos espeleólogos e dos admiradores deles!
O Geódromo dá uma ideia da exploração subaquática da nascente, uma exploração que não está acabada. No ano passado uma expedição da Sociedade Portuguesa de Espeleologia, com um mergulhador polaco, permitiu atingir um recorde de profundidade de 130 metros abaixo da superfície, sem se atingir o fundo da cavidade (ver em baixo mapa da cavidade). Este tipo de exploração é extremamente perigoso, tendo custado a vida, embora noutros locais, a alguns exploradores mais afoitos. Vale a pena lembrar que uma nascente semelhante, mas ainda maior, é a Fonte de Vaucluse, no Sul de França, onde o lendário Jacques Yves Cousteau mergulhou até -46 metros, o temerário espeleonauta alemão Jochen Hasenmayer desceu até -205 m e um engenho telecomandado atingiu o fundo do sifão a -305 m. E talvez não seja do conhecimento geral que o recorde do mundo de mergulho subaquático em grutas pertence a um português, o extraordinário Nuno Gomes, um engenheiro emigrante na África do Sul, que estabeleceu o recorde do mundo de -283 m na gruta de Bushmansgat na África do Sul, Em mergulho em águas livres, no Mar Vermelho, o português já atingiu outro fabuloso recorde: -318 m. Eu julgo que Nuno Gomes ainda não mergulhou na nascente do Alviela. Talvez quando o fizer, consiga ir abaixo dos actuais 130 m de profundidade...

in http://blogs.publico.pt/dererumnatura/

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